segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Lampaça - Magusto

Um magusto improvisado à moda tradicional.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Lampaça - Raridades

Louceiro de cozinha trabalhado em madeira

Lampaça - Vindimas 2011




Guardo memórias preciosas da minha infância e adolescência em Lampaça, no recôndito Nordeste Transmontano, que quero partilhar convosco.

Em Setembro e Outubro as uvas estavam bem maduras para comer. Apresentavam-se em várias espécies, brancas ou tintas.
Embora grande parte das uvas se destinassem à produção de vinho, havia uma grande tradição de colheita de uvas para conserva.

O feitor, o circunspecto, honesto e leal Sr. António - homem alto,  seco de carnes e de andar baloiçante. hábito que provinha de caminhar  nas calçadas - rogava as mulheres e os homens para a vindima.
As vindimas estavam na sua máxima força no mês de Setembro. O pessoal não parava, em plena vindima, sempre a cortar uvas, durante cerca de três semanas. Recordo a lida do campo de outros tempos. Da enxertia, passando pela poda, cava, sulfatação e vindima. Como todos nós sabemos a vinha e a produção de vinho nunca acaba. (Desde que se vindima até a vindima seguinte há sempre trabalho na vinha).


Mãos ágeis das mulheres, que falavam alto e animavam com os seus cantares a vindima, cortavam as uvas que lançavam para as cestas de uma asa. Cheias de uvas as cestas eram despejadas em cestos de vime barleiros (1)  que os homens subindo para o carro de bois despejavam. E, as dornas (2), quando cheias, atadas por cordas ao carro de bois ou bestas de carga lá prosseguiam. Seguindo por caminhos íngremes, ladeiras manobras mirabolantes de tirar o chapéu aquele que conduzia o carro de bois, até por fim, chegarem ao lagar já lavado de véspera.
Hoje em dia, o fim da vindima termina com uma visitas às "capelas" e uma tainada.

O transporte do vinho mosto para a adega era feito por mulheres com um cântaro à cabeça apoiado numa rodilha [a "sogra" ] ou por bestas com engarelas para quatro cântaros,  para armazenagem do vinho tinto e rubro em pipas e toneis, sendo previamente registados a giz  por mim, em grupos até cinco, num aro da respectiva vasilha.

A produção da águardente bagaceira, feita a partir do bagaço de uva fermentado, no alambique, tinha lugar nos patios ou pequenos gazebos com telhado de colmo.
O momento culminante era o da prova, quando os homens de copo na mão aguardavam com expectativa os primeiros pingos de aguardente cristalina.

Havia ainda a jeropiga (bebida feita de mosto, aguardente e açúcar) - bebida preferida pelas mulheres de então -  com que o meu pai as brindava -  na altura da malha "degranha" do milho.

Na Lampaça e aldeias vizinhas as vindimas não paravam durante semanas.


(1). Cesto para vindimar.
(2) Vasilha formada de aduelas, de boca mais larga do que o fundo, onde se pisa a uva e se conserva o mosto.
Fonte: AGAL - Associaçom Galega da Lingua
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