segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Lampaça - Serra de Esculca



Bouças vista da Serra de Esculca
Capela de Picões vista da Serra de Esculca

Encosta de Lomba



Marco geodésico da Serra de Esculca

Barragem do Rabaçal vista da Serra de Esculca
Quinta de Picões vista da Serra de Esculca

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

sábado, 6 de outubro de 2012

Lampaça - Srº João

Faleceu na passada Sexta-feira o Sr. João da Silva com 92 anos já feitos. Possuiu durante muitos anos uma "taberna" a qual dedicou ele e sua mulher muito do seu tempo livre sendo nos últimos anos já um passatempo, sem nunca deixar de ser um grande trabalhador afinco, no seu quintal cultivava de tudo um pouco, ainda não se falava em hortaliça e já ele a possuía no seu horto. No seu tempo livre era vê-lo sentado ora na sua varanda ora numa pedra soalheira.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Lampaça - Expiação, ... - Filmes para rever neste Inverno gélido

Filmes para rever neste Inverno gélido
Expiação -Volver - As paixões de Júlia - Tabu - Aquele querido mês de Agosto - Guia para um Final Feliz - A Cor Purpura - "Amour" Pelas Ruas da Amargura - Como Água para Chocolate - Paris, Texas, - Amália Rodrigues O filme - Taxi Drive - O Segredo de Brokeback Mountain - Um Filme Falado - Psicose - Esplendor na Relva - O Paciente Inglês - Beleza Americana - Estado de Guerra - Gritos e Sussuros - O que dizem os seus Olhos - Mel - Underground /Mentiras de Guerra - Realizar o Impossível - Vale Abrão - Interstellar - O Capitão - O Homem que viu o Infinito -  8/5 - Marcado pela Promessa - Assim Nasce uma Estrela






Nestes dias chuvosos e gélidos, no conforto de uma lareira é reconfortante rever alguns filmes, hoje, apeteceu-me rever este "Expiação", posso dizer que é uma adaptação perfeita do livro. 
       Expiação ou a Historia de uma Mentira é um filme extraordinariamente belo. Não é um filme do todo fácil, requer alguma atenção.
    Uma adaptação do romance de Ian McEwan pela equipa de "Orgulho e Preconceito", "Expiação" foi nomeado para sete Globos de Ouro, tendo arrebatado os prémios de melhor filme e banda sonora original."
     Briony Tallis é uma menina de 13 anos na Inglaterra de 1935. Vive confortavelmente numa mansão vitoriana. A pequena Briony  prepara uma peça de teatro para ser apresentada em homenagem a chegada do irmão, Leon Tallis. Enquanto se esforça para terminar a peça e conseguir a atenção dos convidados da família os gêmeos Pierrot e Jackson, mais a irmã deles, Lola Quincey para ensaiá-la, Briony descobre um possível jogo de atração entre a sua irmã Cecilia e o filho do antigo empregado da família, Robbie Turner. Apaixonada por Robbie, Briony acusa-o injustamente de abusar sexualmente de Lola, levando-o a prisão e mais tarde a alistar-se no exército britânico para lutar na 2ª Guerra Mundial como alternativa ao cárcere. Já em plena guerra, Robbie reencontra Cecilia, que agora é enfermeira, e os dois trocam promessas de amor eterno. As constantes permutas temporais, uma grande trilha sonora aliada ao grande roteiro e o fim inesperado fizeram deste filme o vencedor do globo de ouro para melhor filme dramático 2008.


Volver




O filme fala de duas irmãs, Raimunda e Sole, que retornam à casa da família depois que um incêndio fatal mata os pais. Mais tarde, em um outro reencontro, as irmãs conversam com a Tia Paula, já muito doente e um tanto ensandecida, que jura que é a mãe delas quem cuida da casa e dela mesma. A história absurda é desconsiderada e as irmãs voltam ao que seria vida normal.
Penélope Cruz é Raimunda. Um dia, chega em casa e encontra a filha Paula paralisada: vítima de abuso sexual, Paula se protege matando o pai a facadas. Mãe protetora que é, Raimunda toma as rédeas da situação e decide dar um jeito no corpo do marido. Nesta mesma noite, sua tia também havia falecido. Sole vai ao enterro sozinha e lá se encontra com o fantasma da sua mãe, interpretado por Carmem Maura. Ou melhor: o fantasma da mãe, Irene, é que se encontra com ela, fugindo escondido no porta-malas do carro.
O 16º longa-metragem de Almodóvar é, na verdade e novamente, sobre mulheres: três gerações de uma mesma família do interior da Espanha. Irene é a mãe que precisa ser perdoada pela filha Raimunda. Esta é jovem, trabalhadora, forte e amorosa. Sole, também filha de Irene, foi deixada pelo marido, tem medo de mortos e possui um salão de cabeleireiro clandestino. E Paula, a mais nova de todas, aprende com as parentas como é ser uma daquelas mulheres.
Volver, como o próprio nome anuncia, é um retorno ao que de melhor o diretor e roteirista sabe fazer: falar sobre mulheres. Almodóvar assumiu que o longa trata muito sobre ele mesmo, e, por isso, volta à região onde nasceu, à infância e ao universo feminino. é um filme de atrizes, segundo o diretor, e sem elas, o filme não existiria: “Minha vocação é ser o primeiro espectador delas”, afirma.
O filme não é fantasioso, não é escrachado nem melodramático. Além das mulheres, o filme é sobre a morte e como ela pode ser natural para muitos povos,

As Paixões de Julia/Adorável Julia




Julia Lambert (Annette Bening) é uma bela e talentosa actriz de teatro em final de carreira na Londres dos anos 30. Os seus papéis, histórias de amor e animadas comédias sociais, são grandes sucessos, fazendo de Julia uma das mais amadas actrizes do seu tempo. Mas, no teatro, como na vida, as aparências são muitas vezes enganadoras. Júlia atravessa uma crise de meia-idade e tanto o seu sucesso profissional como o seu casamento com Michael Gosselyn (Jeremy Irons) - marido liberal, produtor e seu agente - tornaram-se banais e insatisfatórios.
É então que conhece Tom Fennell (Shaun Evans), um belo e charmoso jovem americano que se apresenta como o seu maior fã. Julia acaba por render-se às suas atenções e vê-se inesperadamente envolvida numa apaixonada relação. A vida torna-se então mais ousada e excitante para Julia e as suas "performances" voltam a incendiar os palcos, até que o seu novo amor a relega para segundo plano. Depois de desfrutar do seu dinheiro e das suas relações sociais, Tom dirige agora a sua atenção para Avice Crichton (Lucy Punch) - uma jovem actriz à procura de uma oportunidade no mundo do teatro. Este irá servir-se de Julia para que Avice progrida na sua carreira. 



AMOUR Pelas Ruas da Amargura


O filme passa-se num elegante apartamento parisiense, daqueles em que as poltronas já estão desbotadas e moldadas aos corpos dos donos. E os quadros não podem ser removidos porque deixariam inevitavelmente a marca da sua presença nas paredes, como uma sombra invertida. E livros amarelados nas estantes, discos manuseados, e um piano de cauda, disposto na zona mais luminosa da sala.
Não, o filme passa-se num laboratório, atrás de uma cortina de vidro, onde Michael  Haneke disseca, com a frieza de um bisturi, com uma noção de ritmo absolutamente perfeita (arrastado como as passos dos atores octogenários), a crónica metódica das devastações e das injúrias da idade. E prega a prega, ruga a ruga, a meticulosa incisão de Haneke vai fazendo a vivissecção sombria das várias etapas da debilidade do envelhecimento: a paralisia, a demência, a incontinência, a afasia, as fraldas, a alimentação forçada e os cremes para as escaras na mesinha de cabeceira. E destas incisões não se derrama um pingo de sangue, não se solta uma lágrima, não se verte um mililitro de sentimentalismo. É a vida, é a morte.
Não, o filme passa-se num mausoléu egípcio. Dessas tumbas que estão seladas há séculos, mas que ainda mantém os pertences e sombras da vida passada, as joias, as estatuetas, os bálsamos, os gatos embalsamados. Porque os possuidores de todas estas materialidades já estão em estado imaterial, mumificados no seu imobilismo entaipado, com pele ressequida, mas mortos- embora ainda não o saibam.
Aliás, a primeira cena remove-nos qualquer suspense dramático, e logo transmite esta sensação tumular, e há uma baforada de ar fétido, que num desassombro se lança à cara de quem ousou quebrar o "descanso em paz", e removeu a lápide do jazigo. São os bombeiros a tapar o nariz, quando arrombam a porta do apartamento, e vem-lhes o cheiro a morte. E encontram uma velha mulher, lívidez de cadáver, numa cama, com uma aura de flores dispostas como uma natureza morta.
A mesma mulher que veremos após o genérico, com o marido, na plateia de um recital de piano. Schubert. Haneke tem o cuidado de nunca enquadrar o pianista. Apenas o público. Porque o que vamos ver a seguir é um filme sobre a tragédia da condição humana. A tragédia de nos sabermos mortais. O realizador austríaco, que com Amor, bisa a Palma de Ouro em Cannes (depois de Laço Branco, 2010), e conquista os galardões máximos dos Prémios de Cinema Europeu, e constará muito provavelmente na listagem de melhores filmes estrangeiros nos óscares (e talvez até noutras categorias), dirige a câmara para onde normalmente os nossos olhares costumam ser desviados. Especialista em emoções extremadas, nas origens ocultas de uma violência que germina no subsolo como raízes insidiosas, costuma dizer que os seus filmes são mais fáceis de realizar do que de assistir. Amor, é particularmente duro. Porque não há culpas, a quem se possa atribuir, por estas indignidades do envelhecimento. As ignomínias de se ir perdendo as capacidades físicas e cognitivas. O ultraje de se envelhecer lentamente  - como uma tortura vagarosa. E isso dói. E é a última palavra, que num desempenho dilacerante, a atriz Emmanuelle Riva ( a adolescente de Hiroshima, Meu Amor, de Alain Resnais, 1959, agora com 85 anos) pronuncia : dói. Mesmo tendo uma vida confortável, sem problemas assistenciais, sem a solidão gélida de um hospital, sem os falsos consolos de uma qualquer religião, dói imenso. E o marido, Jean-Louis Trintignant, assiste, gradualmente, etapa a etapa,  aos últimos laivos de vida da mulher, como se estivessem a ser engolidos pelo buracos de um ralo. No fim de um casamento voltam a ser só dois, como no princípio. Não há nada de romântico em viver com quem se ama até ao fim dos seus dias. Só agonia e dor.
Como em todos os filmes de Haneke, há sempre um acontecimento disruptivo que não é nada, ou pode não ser nada, mas que sempre nos abre uma pequena, e muito subtil, fresta para a inquietação. Depois do recital, o idoso casal, mas intelectualmente requintados e melómanos - e é interessante esta vizinhança entre a música tão sublime e a decadência tão humilhante-  dirige-se para casa de autocarro (são as únicas duas cenas passadas fora do apartamento ou do mausoléu - como se quiser). Quando tentam entrar em casa apercebem-se que a fechadura foi forçada. O episódio não tem qualquer sequência no filme, há conversas sobre contactar o serralheiro, mas pouco mais, um detalhe aparentemente sem relevância. Como se isso fosse possível em Haneke, um maníaco-meticuloso, que estuda as suas cenas e guiões até ao mais ínfimo pormenor, acusado de fazer dos atores marionetas e levá-los a fazer exactamente o que pretende, até se lhes arrepiarem os nervos. Quem forçara a porta nessa noite era a morte, mas só no final do filme fazemos o rewind do sucedido e disso nos damos conta.
Segue-se uma ligeira inquietude nocturna, mas também não é nada. Nunca é nada, mas afinal é. Durante o pequen-almoço, o casal retoma os seus rituais de sempre, e por uns momentos, a face da mulher fica cristalizada no tempo, sem nada ver ou ouvir, cara serena e inerte, como uma máscara mortuária. A perplexidade do marido, que abre a torneira da cozinha, tenta passar-lhe um guardanapo molhado pela testa, mas nada a resgata desta evasão de si própria. O homem vai pelo corredor, talvez telefonar, pedir ajuda. Mas o ruído da água a correr cessa (todo o filme está preenchido com pequenos ruídos, excepto quando entra a música que eles próprios, professores de música controlam).  Quando o marido volta à cozinha, a mulher regressara ao seu estado normal, queixa-se de que ele deixou a torneira aberta. Tivera um pequeno AVC e começa aqui o descarrilar da dignidade humana. Segue-se uma paralisação de um dos lados do corpo, a cadeira de rodas, a cama articulada, os cuidados das enfermeiras ao domicílio que lhe fazem a higiene pessoal. E, como já tinha feito em Laço Branco, em que filma de uma forma muito pouco mística o cadáver de uma camponesa, da cintura para baixo, Haneke foca a lástima de um corpo flácido de velha mulher, na banheira: "dói!".
Talvez a prova de amor deste marido seja o oposto do que Haneke nos força, algo sadicamente, a assistir. Ele poupa a mulher a todos os olhares devassos, que testemunhem a sua diminuição. Ele tenta evitar que a própria filha (Isabelle Huppert) assista ao espectáculo da decadência da mãe. Vai cerrando sobre ambos a lápide do túmulo. Todos são intrusos - excepto um inofensivo casal de porteiros de origem portuguesa (a mulher é Rita Blaco, ver caixa). Até o pombo que inadvertidamente lhe entra pela janela, como os pombos costumam fazer nos edifícios que já não são habitados - outro acontecimento aparentemente irrelevante à Haneke, outro prenúncio de morte. E este out-sider alado passeia-se pela divisão, sem mostrar temor, com a desenvoltura de quem já tem a legitimidade de ocupar aquele espaço. Há conflitos com a filha, há conflitos com a enfermeira, mas o grande conflito é, na realidade com a morte. E se nos restantes filmes de Haneke, este retrata a violência de um passado culposo ( Código Desconhecido, 2000), ou da explosão da ira e da xenofobia (Nada a Esconder, 2005), ou da auto-agressão nos recantos mais sórdidos da intimidade de cada um (A Pianista, 2001), ou a mais niilista e desonerada das tiranias (Funny Games, 1997 e 2007), ou a prepotência e brutalidade sádica infligida às crianças, um prefácio do nazismo, que há de ser devolvido á sociedade nos anos 30, e portanto não se pergunte Warum? ( Laço Branco), em Amor a violência chega da natureza humana contra nós próprios. E ainda assim, mesmo não havendo hipótese de redenção e caterse nesta tragédia humana, nós continuamos a questionar Warum? Ou Pourquoi? Há muitos filmes sobre o envelhecimento, mas nenhum tão honestamente assustador, sem arestas suavizadoras, sobre o processo de declínio em curso. Sobre a violência de algo que não podemos ver. Nem conter. É gritante, é brutal. É a morte, é a vida.

COMO ÁGUA PARA CHOCOLATE


Tita, a filha mais nova de uma matriarca não pode se casar para cuidar da mãe até a sua morte. Ao crescer, Tita se apaixona por Pedro Muzquiz, que corresponde e quer casar com ela, mas a mãe da moça proíbe o casamento, e sugere que ele se case com Rosaura, a irmã dois anos mais velha de Tita. O rapaz aceita, pois esta é a única maneira de se manter perto de Tita. Logo no início do filme, uma fala descreve o quanto era carregada de significados a comida preparada por Tita: "O ruim de chorar quando se pica cebola não é o fato de chorar, e sim que, às vezes, não se consegue parar...". Essa fala explicita uma profunda entrega ao ato de cozinhar: o envolvimento de Tita era tão intenso, que emoções de toda ordem podiam ser acionadas pelo simples ato de cortar cebolas.
O desenrolar da história se dá a partir do romance proibido entre Tita e Pedro, um jovem do povoado. Por ser a filha mais nova, Tita é destinada a passar a vida cuidando de sua mãe. Assim, é negada a ela a possibilidade de casar-se ou dedicar-se a outra atividade.
O destino imposto a Tita a conduz a uma profunda tristeza, que seria intensificada com o casamento de Pedro com sua irmã mais velha, Rosaura. Pedro aceita esse casamento - naquele lugar, assim como em outros tantos povoados rurais, casamento era entendido como negócio de família - por entendê-lo como única possibilidade de ficar mais perto de sua amada, enquanto Tita, sem compreender bem a decisão de Pedro, mergulha num "mar de tristezas", por entender que perdera de uma vez por todas o grande amor de sua vida.

prato_de_codorna_e_rosas.jpeg


Diante disso, é na comida preparada por Tita que se manifestam e são transmitidos os sentimentos, angústias e desejos que ela traz contidos, devido ao amor proibido que sente por Pedro. Isso ocorre já no casamento. Ao preparar o bolo do casamento, tomada por profundo sentimento de tristeza, Tita se põe a chorar, deixando cair suas lágrimas sobre a massa do bolo. A profunda tristeza de Tita, transmitida para a massa do bolo, causaria ânsia de vómito nos convidados. Já em outra ocasião, o prato de codornizes ao molho de pétalas de rosa, preparado com as flores que Tita ganhara de Pedro, transmitiria a quem o ingerisse a sensualidade e volúpia daquela paixão...Moral da história, durante décadas o filho/a mais velho tinha de tomar conta dos país e da família limitando assim a sua liberdade...


Guia para um final Feliz







David O' Russel tem um percurso curioso- e até interessante. Pena ser em sentido descendente, embora nem nesta comédia romântica desça abaixo do nível de água. A um filme de guerra híbrido e frenético (o extraordinário Três Reis, 1999), seguiu-se o The Fighter (com um daqueles papéis inesquecíveis de Christian Bale - que lhe valeu um óscar-, e uma excelente caracterização de personagens) e agora aparece num registo mais levezinho, mas não imersível, ao juntar como par romântico Bradley Cooper (conhecido pelas sucessivas Ressacas) e Jennifer Lawrence (umas das mais jovens atrizes a ser nomeada, por Winter' s Bone, em 2011). Ao casal junta-se o grande Robert De Niro que, ultimamente, se tem especializado em papéis irrisórios, de pai e sogro. Os diálogos são bons e o registo "sad-comic" dos atores funciona (a maior surpresa é Cooper), a par com uma das músicas mais kitsh, em versão Stevie Wonder, que ganha aqui também um acento cómico (Ma Cherie Amour), mesmo num guião resvaladiço, e até previsível. O facto de as personagens terem "um parafuso a menos", ou "não jogarem com o baralho todo" (utilizando as expressões da gíria), tanto os que estão no manicómico, como os que estão fora, confere-lhes estranhamente um estatuto de normalidade - ou não será tão estranho quanto isso, enfim... Há uma espécie de disputa de loucuras, um atira com o seu distúrbio obsessivo-compulsivo, o outro joga com a bipolaridade, outra com um trauma ninfomaníaco, e vários outros com stress, manias, ataques de nervos... Todo o desenrolar do filme conflui para uma situação climática, que podia ter a mesma força (um embaraço muito divertido e catártico) da inesquecível cena do concurso de Little Miss Sunshine. Aqui, também há uma situação de dança, como um ritual de passagem, em que os protagonistas muito amadores enfrentam dançarinos profissionais. E no momento crucial, o filme dececiona e falha redondamente.


Aquele querido mês de Agosto  

    Aquele querido mês de agosto é um filme português de longa-metragem de Miguel Gomes. Híbrido de documentário e ficção, é uma docuficção. Pelo seu conteúdo antropológico, caracteriza-se também como etnoficção.



 Realizado em 2008, "Aquele Querido Mês de Agosto" apresenta em paralelo uma história ficcional ocorrida em Portugal no pico do verão e as hesitações, dificuldades e deambulações da equipa de cinema enquanto levavam a cabo a rodagem.
A publicação norte-americana diz que a obra funciona como um bom complemento de "Tabu", para se perceber a audácia do realizador português.

Após a aclamação internacional de "Tabu", eleito por inúmeras publicações internacionais como um dos melhores filmes de 2012, a edição do anterior filme de Miguel Gomes no mercado norte-americano é agora destacada pela revista "New Yorker " que o elege como DVD da semana.














"Flutuando entre a ficção e o documentário, entre a comédia e o drama, entre o passado e presente, o filme tem algo de uma escavação livre da memória, que mostra ser um fator decisivo na vida quotidiana", refere a apresentação do filme feita pela "New Yorker" com o respetivo trailer.
 TABU é uma história passada um pouco antes da Guerra Colonial Portuguesa. É um filme sobre a passagem do tempo, acerca das coisas que desaparecem e que só podem existir como memória, fantasmagórica, imaginário.
"Ele (Miguel Gomes) tem apenas 40 anos, e é um dos melhores do mundo, o mais original dos cineastas. Estou extremamente ansioso para ver o que fará a seguir", refere o texto do crítico da "New Yorker" Richard Brody,




Paris, Texas


Este filme destaca-se excelente pelos seus enquadramentos e pela trilha sonora um solo de guitarra de Ry Cooder,  e, que só por isso vale a pena rever este filme.
   Paris, Texas conta a história de Travis, um homem que , depois de estar desaparecido por vários anos e reencontrado pelo seu irmão Walt num hospital na região desértica do Texas  Walt leva-o para sua casa em L.A, onde reencontra Hunter, seu filho de sete anos que foi abandonado pela sua mãe. Travis e Hunter iniciam uma reaproximação culminando numa grande amizade e no desejo secreto de reencontrar Jane e assim reconstruir a sua verdadeira família.
   O filme tem como titulo o nome de uma cidade do Texas, chamada Paris, mas não foi filmado ali.
   Paris, Texas é notavel pelos seus enquadramentos. A primeira cena começa com o ponto de vista de um passaro sobre o deserto, uma paisagem austera, seca  e alienígena.  As cenas passam por velhos quadros de aviso com propagandas, cartazes, gaffites, carcaças oxidadas de ferro, velhas linhas de comboio, cartazes de néons, moteis, estradas que nunca terminam(...). Este olhar estrangeiro de Wim Wenders não é mais que uma releitura do velho Este que ele provavelmente conheceu através dos filmes de John Ford. Nesta nova America de Wim Wonders não há arranha-céus. Os planos abertos aqui diferentes dos Westerns que reforçam a ideia da aventura e desconhecido definem a solidão, a fragilidade das relações humanas, o individuo reduzido a apenas mais um elemento na paisagem da grande cidade.
   O tema central do filme é a alienação social na America. Outro tema é a dos pais usarem as crianças como pretexto para manter uma relação.

AMÁLIA RODRIGUES O FILME

Hoje faz 15 anos que a DIVA nos deixou e a RTP1 em homenagem exibiu o filme: "Amália Rodrigues O filme"


RTP.exibe o filme Amália Rodrigues "O filme". no dia em q faz 15 anos q faleceu. O filme faz-nos crer q a fadista levado uma vida trágica e assombrada, mas n é verdade. Amália (Sandra barata Belo)  tentou suicidar-se por 4 vezes ao longo do filme, sendo sempre assombrada por um homem de chapéu que vai aparecendo durante todo o filme, e sempre q Amália o vê, vê tb o ano de 1988. O filme acaba por não explicar esta relação. .Amália é representada como uma mulher mal amada, amores mal resolvidos, moderna demais pra o seu tempo e viciada em tabaco. A mãe q finge não gostar dela, a irmã asmática q morre em tenra idade, Durante todo o filme é com Celeste que Amália mantem um elo mais forte acabando por envelhecerem juntas. A família que só a vê pelo dinheiro. No amor, primeiro, entrega-se a um guitarrista com quem casa forçada por ela. Quando já tinha carreira e divorciada mantem uma relação secreta com um menino rico Eduardo q a esconde por esta pertencer ao povo. Entretanto um homem rico Ricardo mas casado persegue-a pelos continentes, ela resiste-lhe por este ser casado. Qdo decide corresponder ao seu amor a abandonando a relação secreta com (Eduardo) acaba por encontrar Ricardo morto no hospital. farta da solidão e do desespero aceita o pedido de César, um brasileiro corista (Ricardo Carriço, no filme)... Para além do ridículo sotaque brasileiro de Ricardo Carriço, temos o sotaque dos pais e da irmã de Amália a ridicularizar o sotaque do Norte. Este aspecto poderia ser evitado no meu entender. Outro aspecto q poderia ser evitado foi a caracterização de Amália quando velha em alguma cenas parece um travesti. Foi pena em não terem investido em planos que a favorecessem mais. bem como aquele que aparece em palco após o 25 de Abril. Outra cena também um pouco forçada é quando Amália é abordada no mercado (Brasil) por uma muçulmana gravida dizendo-lhe q irá por o seu nome a sua filha, uma metáfora pra Amália voltar a cantar. Depois de ler a sua biografia n fiquei com esta ideia de uma Amélia depressiva e obcecada pela morte como o filme nos faz crer. Não quero com isto dizer q o filme foi uma desilusão, pelo contrario. Ainda bem que no final do filme aparece, o filme baseia-se na vida de Amália de (forma livre).

O segredo de BrokeBack Mountain


Verão de 1963. Jack Twist (Jake Gyllenhaal) e Ennis Del Mar (Heath Ledger), jovens à procura de serviço temporário, acabam sendo contratados por um fazendeiro para cuidar de um rebanho na montanha Brokeback. Enquanto Jack aspira à profissão de cowboy e trabalha no local pelo segundo ano seguido, Ennis é estreante e pretende se casar assim que retornar. Vivendo isolados por semanas, eles se tornam cada vez mais amigos e iniciam um relacionamento amoroso. Ao término do verão, cada um constrói o futuro separadamente, mas o período vivido ali irá marcá-los de forma inesperada. Através do premiado roteiro adaptado, Brokeback Mountain nos transmite a capacidade do acaso de mudar o curso de nossas vidas. No longa, a carência financeira e a de independência se encarregaram de provocar a união dos protagonistas e, consequentemente, o início de um auto-conhecimento determinante em suas respectivas trajetórias.
Os laços emocionais firmados entre Jack e Ennis são bastante críveis, pois há todo um cuidado de Ang Lee para que o espectador perceba a intensidade e a variedade dos sentimentos. Não se trata apenas de paixão, há o companheirismo mútuo, o bem-querer e a saudade, retratada num posterior reencontro entre os jovens. Ao longo do filme é perceptível um silencio que fala.
Sem a tradicional abordagem densa dentro da temática, a história não mantém o foco no ambiente repressor e religioso, apesar de usar referências. O destaque aqui é a desmistificação da fragilidade dos homossexuais: eles podem ser valentões e machistas, bem como ávidos chefes de família.

 Taxi  Drive



Citado por críticos, diretores de cinema e público em geral como um dos maiores filmes do cinema dos Estados Unidos, a obra é aclamada por sua performance forte e realismo gritante. O filme levou os atores Robert de Niro e Jodie Foster à fama e reconhecimento; Foster estava com apenas 14 anos durante as filmagens. Bernard Herrmann, conhecido por seu trabalho com Alfred Hitchcock, foi o responsável pela trilha sonora, que acabou sendo a última antes de sua morte.
Nomeado a quatro categorias do Oscar, incluindo Melhor Filme, ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1976.
Travis Bickle (De Niro) é um jovem de 26 anos frustrado e alienado do meio-oeste dos Estados Unidos, que alega ter sido recentemente dispensado do Corpo de Fuzileiros Navais. Ele sofre de insônia e consequentemente arranja um emprego como taxista na cidade de Nova Iorque, oferecendo-se para trabalhar no turno da madrugada. Travis passa o seu tempo livre assistindo a filmes pornográficos em cinemas imundos, dirigindo-se sem rumo pela periferia de Manhattan. Também observa Nova York de seu táxi e irrompe com violência contra o que julga ser a escória que contamina a cidade.
Travis é incomodado pelo que considera o declínio moral a seu redor, e quando Iris (Foster), uma prostituta de 12 anos de idade, entra no seu táxi certa noite para fugir de um cafetão, Travis torna-se obcecado em salvá-la, apesar da completa falta de interesse da jovem pela ideia. Ela explica que estava drogada quando tentou fugir e que o cafetão, Sport, é na verdade uma pessoa gentil e prestável.
Travis é também obcecado por Betsy (Shepherd), que trabalha no comitê eleitoral do senador Palantine, candidato à presidência, cuja campanha promete mudanças sociais drásticas. Ela inicialmente fica intrigada com Travis e, identificando-se com sua própria solidão, concorda em sair com ele. No encontro, entretanto, Travis leva-a a ver um filme pornô, e ela o abandona, perturbada.

Um filme Falado


A mais recente obra de Manoel de Oliveira pode parecer uma defesa da civilização branca e ocidental. Mas é possível chegar à conclusão oposta. O filme alerta para a necessidade de que a ação seja orientada pela sabedoria da fala. Seja ela ocidental ou oriental. 
 
O filme descreve um cruzeiro marítimo de Rosa Maria (Leonor Silveira) e sua filha, a menina Maria Joana (Filipa de Almeida), por cidades do Mar Mediterrâneo. Além de mãe, Rosa também é historiadora. O que possibilita que também o espectador aprenda através dos lugares históricos por que passam as personagens. Além disso, muitas das perguntas da menina Joana são daquelas que nos esquecemos de nos fazer mais vezes: O que são lendas? O que é mito? O que é contemporâneo? O recurso também é uma forma de nos provocar e transmitir o recado do diretor. O problema é que o recado corre o risco de ser mal interpretado. Vejamos porque.
O início do filme, por exemplo, passa pelo perigo de ser considerado uma defesa da visão européia de mundo. O nevoeiro que dificulta avistar os monumentos no porto de Lisboa simboliza o desaparecimento no passado das glórias de um Portugal imperial. Muitos podem enxergar na cena a saudade dos antigos navegadores portugueses. Aqueles que mais do que descobrir terras distantes, abriram caminho para os massacres de quem nelas vivia pelos europeus.
Essa idéia também está perigosamente combinada com a cena da leitura da placa, em Marselha. Trata-se de uma placa fixada no chão, assinalando a chegada dos gregos à cidade, sete séculos Antes de Cristo. As palavras gravadas afirmam que a vinda dos gregos é a inauguração da própria civilização por aquelas paragens e ponto de partida de sua difusão pela Europa. Parece a tese hoje bastante combatida de que fora e antes da civilização ocidental há um vazio. Na melhor das hipóteses, habitado por bárbaros.
Aprendendo com pessoas normais e atravessando idiomas
Essa impressão fica mais moderada quando a viagem estende-se até o Egito, o que desloca a viagem para o continente africano, ainda que continue perto do berço mediterrânico da sociedade ocidental. É nesta cena também que Rosa explica a Joana que trabalho escravo foi utilizado na construção das enormes pirâmides. E que, portanto, as maravilhas ali presentes custaram vidas humanas. E que a civilização é assim mesmo, contraditória e cheia de erros. Essa consideração melhora a situação do filme. O passeio por Istambul também ajuda, quando a mãe explica à filha que os muçulmanos têm o direito a sua religião, tal como os cristãos.
Outro aspecto do filme é a recuperação da idéia da viagem como momento de conhecer pessoas e outras tradições e não apenas ruínas, monumentos e curiosidades.
Mais uma vantagem da professora é seu domínio do inglês e do francês. Isso também lhe dá a chance saber o que ignora com pessoas normais, como o pescador em Marselha, o padre ortodoxo na Grécia e o ator português no Egito. Sem isso, o viajante fica como a pequena Joana, excluída de algumas conversas. Aliás, é como ficaria o público de muitos lugares do mundo se o filme não trouxesse legendas. Até do Brasil.
Pode parecer exagero, mas há um razoável distanciamento entre o português de vogais fechadas e consoantes ásperas dos lusitanos e o modo brasileiro de falar. Influenciados pelos indígenas e negros, expandimos as vogais e suavizamos as consoantes. Essa situação dá ao filme de Manoel de Oliveira um sabor diferente para nós, que falamos português do lado de cá do oceano. É o que ocorre, por exemplo, na tradução da frase "o vulcão deitou lava e cinzas", mais literária, pela forma mais técnica presente em "o vulcão expeliu lava...".
Esquemas não dão conta da riqueza simbólica das línguas
A sucessão de paisagens dá lugar a um debate travado durante um jantar no restaurante do navio. Envolvidos nele estão o comandante da embarcação (John Malkovich) e três senhoras. Uma é italiana (Stefania Sandrelli), outra é grega (Irene Papas) e a terceira é francesa (Catherine Deneuve). O capitão é norte-americano, como calha a quem representa a nação que dirige o mundo. Falando cada um em sua língua natal, eles se entendem perfeitamente. Discutem amor, profissões, sonhos, frustrações etc. A conversa é inteligente e delicada, já que é dominada por mulheres cultas e européias.
O momento que nos interessa é aquele em que Maria e sua filha juntam-se ao grupo, convidadas pelo capitão. Desta vez, as mulheres poliglotas admitem não falarr o português. A cena tem como objetivo mostrar a marginalização de Portugal em relação ao restante da Europa. 
O incidente leva Helena, a senhora grega, a lamentar a situação de sua língua natal, fazendo uma comparação com o idioma português. Esta última é falada pelos que dominaram o mundo nos séculos 16 e 17, diz ela, tal como os gregos o fizeram na Antiguidade. Mas, a língua lusitana está presente em vários continentes, ao passo que o uso do grego ficou restrito a sua terra de origem. No entanto, Helena consola-se com o fato de que palavras de seu idioma estão presentes em praticamente todas as línguas ocidentais. 
Esta conclusão alegra a todos, mas também serve para nos lembrar que a língua e outras esferas da vida cultural são muito mais ricas e dinâmicas do que querem alguns esquemas. Não há uma relação mecânica entre a economia, por exemplo, e a criação simbólica presente na linguagem. É verdade que o inglês impera porque impera a dominação anglo-americana no planeta há uns 200 anos. No entanto, nos próprios Estados Unidos, já surgiu o "spanglish". Uma mistura entre espanhol e inglês que apareceu devido à enorme presença dos hispânicos em território ianque. O fenômeno já está assustando os conservadores norte-americanos. Um deles chegou até escrever um livro, preocupado com a corrupção dos valores ianques por elementos culturais que lhes seriam estranhos. Trata-se de "Quem Somos: Desafios à Identidade Nacional Americana", de Samuel P. Huntington. É a força-de-trabalho barata e superexplorada vinda dos sul que se vinga de seus exploradores "contaminando" sua poderosa língua. 
A ação sem palavras é bruta e cega
Voltando ao filme, seu trágico final corre o perigo de provocar uma leitura equivocada das intenções do diretor. Há o risco de que a destruição do navio apareça como mais uma ação bárbara contra os "civilizados". Uma condenação do fanatismo oriental, incapaz de reconhecer o saber e a moralidade superiores do Ocidente.

PSICOSE



Hitchcock é, provavelmente, o diretor que mais consistentemente legou imagens memoráveis à Sétima Arte

Mas, provavelmente, é Psicose que se tornou, ao longo do tempo, sinônimo do “cinema de Hithcock” e o filme pelo qual ele é mais lembrado, seja você um cinéfilo ou não. E, de fato, apesar de Psicose não ser sua melhor obra – na verdade, ela tem um defeito grave que abordarei mais adiante – é inegável o quanto essa fita é marcante e inesquecível. Seja a assustadora sequência do chuveiro (que foi filmada ao longo de três dias, contém mais de 50 cortes e o sangue é de chocolate), a revelação do chocante segredo de Norman Bates, o design marcante e inconfundível da casa do psicopata (baseada na pintura The House by the Railroad, de Edward Hopper), a atuação inimitável de Anthony Perkins (que não tem nenhuma relação física com o personagem do livro que deu base ao filme), a trilha sonora arrebatadora de Bernard Herrmann (que originalmente não seria usada na cena do chuveiro) ou a fotografia aterradora de John L. Russell (que era para ser colorida, em princípio), tudo funciona como um bem afinada sinfonia em Psicose, ainda um dos melhores filmes de suspense já feitos e certamente o melhor do sub-gênero serial killer.
E Psicose quase não se tornou um filme. Era o final da década de 50, o famigerado Código de Produção estava ruindo e Hitchcock estava preso por uma obrigação contratual de fazer mais um filme para a Paramount. Sua secretária Peggy Robertson lera uma crítica positiva do recém-lançado Psicose, livro de Robert Block ficcionalizando a vida do assassino Ed Gain, e decidiu levá-lo ao seu chefe, que ficou encantado. A Paramount vetou o livro pelo seu conteúdo pesado e por considerá-lo “infilmável”. A produtora queria uma de suas opções mais “fáceis” como a adaptação de No Bail for the Judge e o diretor estava um tanto desacreditado depois do relativo fracasso de Um Corpo Que Cai (a produção anterior de Hitchcock para a Paramount). Mas Hitchcock não se acovardou e pagou para ver, sugerindo à produtora bancar o filme integralmente, sem ganhar salário, usando a equipe de produção de seu programa de TV Alfred Hitchcock Presents, com filmagens no Universal Studios. A Paramount teria que prometer apenas distribuir o filme. E assim foi feito.
Com orçamento baixo – menos do que um milhão de dólares, valor irrisório mesmo para a época – e filmando em preto-e-branco como parte da economia orçamentária, Hitchcock conseguiu um feito de fazer inveja, tomando de assalto os espectadores da época que, em uma estratégia que copiou do lançamento de As Diabólicas, de Henri-Georges Clouzot, cinco anos antes, foram proibidos por Hitchcock de entrar nos cinemas depois de iniciada a projeção. Mantendo tudo em mais absoluto mistério – algo que, hoje, é irritantemente impossível, pela mania das produtoras em revelar e dos fãs em saber tudo sobre o filme antes do lançamento – Psicose foi um sucesso absoluto, que terminou por destruir o Código de Produção e que, segundo muitos críticos e estudiosos, abriu o caminho, para o bem ou para o mal, para uma longa era de filmes mais gráficos e violentos, com conteúdo sexual, era essa que, devo dizer, parece não ter acabado ainda.
Em termos de história, Psicose é, literalmente um divisor de águas, pois, na verdade, o espectador é brindado com não um, mas dois filmes bem diferentes. O primeiro deles tem como estrela Janet Leigh, vivendo a secretária Marion Crane. Nós a vemos, de sutiã, na cama com seu namorado em uma cena risqué para a época e que foi extremamente debatida pelos censores ainda apegados ao Código de Produção. Os dois não têm dinheiro para casar e Marion, então, de uma hora para outra, decide furtar 40 mil dólares de seu chefe e foge de Phoenix, no Arizona, dirigindo.
Hitchcock nos faz acompanhar, em detalhes, a fuga de Marion, aproximando-nos da personagem com uma câmera próxima de seu rosto, em médio plano e close-up. Nós nos tornamos cúmplices da moça e passamos a sofrer por ela, simpatizando com seus atos. Sua saga continua quando ela é acordada por um policial depois de passar a noite dormindo no carro na beira da estrada. Em seguida, ela decide se livrar do carro e uma inquieta negociação de compra e venda acontece, novamente com o policial à espreita. Marion sente o mundo fechar à sua volta e nós sentimos junto com ela. A jornada continua e Marion, na chuva, se desvia da estrada e para em um motel – sim, o Bates Motel – para passar a noite, pois, além de cansada e de não enxergar nada com o temporal, ela tem dúvidas sobre o ato que cometeu e começa a repensar o furto. Ela é, então, atendida por um atencioso rapaz, Norman (Anthony Perkins), dono do motel, e que mora com sua mãe em um casa próxima, que a coloca no primeiro quarto, próximo ao lobby. Marion vai, então, tomar banho. Ela parece querer se limpar da sujeira que cometeu. Há um subtexto de arrependimento, da limpeza trazida pela água.
E é, nesse ponto, que Hitchcock puxa nosso tapete e apresenta o maior plot twist de todos os tempos, com uma senhora – presumivelmente a mãe ciumenta de Norman – assassinando Marion impiedosamente, a facadas, em uma daquelas sequências que, uma vez vista, jamais será esquecida, com a trilha sonora de Herrmann, carregada de cordas e muita, mas muita tensão (ao ponto dos créditos de Herrmann no filme serem logo anteriores aos de Hitchcock!), nos desesperando. A plateia da época deve ter ficado desnorteada pela surpresa e completamente confusa com um fato simples que pode ser resumido a uma pergunta: a protagonista morreu e agora?
Psicose seria o thriller de assassino perfeito e uma das maiores obras da Sétima Arte não fosse seu final. E não estou falando, aqui, da resolução da trama do assassinato de Marion. Isso acontece sem falhas, com um roteiro redondo, atuações brilhantes, direção precisa e trilha sonora assustadora. Falo, na verdade, dos três minutos finais em que Hitchcock não se furta em apresentar aos espectadores uma explicação detalhada, mas extremamente artificial e, em última análise, desnecessária, sobre a insanidade de Norman Bates. Ele está preso em uma cela, mas um psiquiatra forense entra na sala do delegado e, falando para Lila e Sam, explica tudo o que o espectador já sabe. Nada é deixado para dúvidas ou para discussões. Norman Bates é descortinado, desnudado em uma versão for dummies de toda a sensacional obra que veio imediatamente antes.
Considero esse final algum tipo de delírio de Hitchcock. Ou, talvez, extrema insegurança por ter investido seu dinheiro na produção que havia sido deixada de lado pela Paramount e que teve até sua distribuição sabotada. Mas o fato é que o final está lá, infelizmente, um exemplo de amadorismo em uma obra que, de outra forma, seria de se aplaudir de pé. Ok, talvez essa afirmação seja um exagero, mas reparem como toda a sequência destoa completamente do que veio antes. Há relativamente poucos diálogos no filme e toda a explicação que precisamos já foi precisamente mostrada por Hitchcock nas sequências que se passam dentro da “mansão mal-assombrada” de Bates. A repetição cansa e chama os espectadores de idiotas quase que literalmente.

Esplendor na Relva

 "Tão pouco se pode falar de um filme que só se deve contemplar, de um filme que é um dos mais belos jamais feitos.

Da extraordinária perfeição da realização de Kazan, ao cuidado exacto de cada plano, à densidade comovente das interpretações de Natalie e Warren, ao dramatismo arrebatador do argumento de Inge, ao uso simbólico dos elementos naturais e físicos como caracterizadores da acção, à própria identificação pessoal que sentimos com aquelas personagens presas na sua sociedade repressiva, à magnífica fotografia e à música que o compõem, até às origens literárias do filme e àquelas que originou, tudo se conjuga em Esplendor na Relva, criando um dos mais importantes filmes de sempre, lírico, marcante de uma geração, intemporal, inimitável. E o que é Esplendor na Relva? Tudo e nada. Uma história de repressão sexual?, de um relacionamento impossível?, da própria tragicidade do amor? Haverá nas entrelinhas uma pontada de crítica à sociedade norte-americana, desprovida de afetos e de amor? Há isto tudo e, ao mesmo tempo, nada disto.

Afinal, o que importa definir o indefinível, quando o que importa é ver? Ver e aprender que encontraremos a força no que ficou para trás…"

Moulin Rouge

 
A história se passa em 1889 e gira em torno de um jovem poeta, Christian, que desafia a autoridade do pai ao se mudar para   Montmatre, em Paris, considerado um lugar amoral, boêmio e onde todos são viciados em absinto. Lá, ele é acolhido por  Toulouse-Lautrec e seus amigos, cujas vidas são centradas em Moulin Rouge, um salão de dança, um clube noturno e um bordel (mas cheio de glamour) de  sexo, drogas e eletricidade e - o que é ainda mais chocante - de cancan. É então que Christian se apaixona pela mais bela cortesã do Moulin Rouge, Satine.
 O enredo do filme é essencialmente inspirado em três  óperas/operetas:  La bohème de, Giacomo Puccini La traviata  de  Giuseppe Verdi, e Orphée aux enfers de  Jacques Offenbach (esta inspirada no mito  grego antigo de Orfeu e Eurídice). é um cabaré tradicional, construído no ano de 1889 por  Josep Oller, que já era proprietário anteriormente do Paris Olympia. Situado na zona de  Pigalle no Boulevard de Clichy, ao pé de Montamartre em Paris, França. É famoso pela inclusão no terraço do seu edifício de um grande moinho vermelho. O Moulin Rouge é um símbolo emblemático da noite parisiense, e tem uma rica história ligada à boémia da cidade.
Há mais de cem anos que o Moulin Rouge é lugar de "visita obrigatória" para muitos turistas. O Moulin Rouge continua a oferecer na actualidade uma grande variedade de espectáculos para todos aqueles que querem evocar o ambiente boémio da Belle Époque e que ainda está presente no interior da sala de espetáculos. Não obstante, o estilo e o nome do Moulin Rouge de Paris foram imitados por muitos clubes de variedades e salas de espetáculos em todo o mundo.

O Paciente Inglês


O fato é que O Paciente Inglês sempre foi um projeto muito caro e de muita classe, exigindo assim um orçamento relativamente alto para uma proposta que provavelmente não seria tão bem aceita pelo grande público - em outras palavras, um belo elefante branco. E mesmo que tenha conseguido atingir seus objetivos com relação aos prêmios que ganhou e ao sucesso artístico que alcançou, hoje ele é injustamente menosprezado pela grande maioria. Mas se analisado individualmente e fora do seu contexto histórico, podemos afirmar que se trata de um dos filmes mais belos de todos os tempos, principalmente se lembrarmos do fato de ser a primeira grande produção de Minghella como cineasta, que apresenta tanta maturidade e bom gosto, dando até para entender a associação que muitos fizeram entre ele e Lawrence da Arábia.
Como todo bom romance de guerra, O Paciente Inglês conta com uma história de amor proibido durante algum conflito internacional – no caso, a Segunda Guerra Mundial. Em meio aos conflitos dessa época, a enfermeira Hana (Juliette Binoche) se refugia em um monastério abandonado na Itália, para cuidar exclusivamente do homem desfigurado por queimaduras causadas em um acidente de avião; o tal paciente inglês. Enquanto o homem tenta recuperar a memória e lembrar quem é, Hana também abriga no local um soldado indiano, pelo qual se apaixona. Ao mesmo tempo em que se sente confusa diante do sentimento inesperado que começa a surgir em seu coração pelo soldado, Hana passa horas ouvindo seu paciente contar sobre sua história de amor proibido com uma mulher casada (vivida por Kristin Scott Thomas), durante uma excursão de aristocratas pelo deserto do Saara.

Beleza Americana 


Um mundo de aparências, de simulações e de simulacros. Um tema tão pós-moderno dentro de uma narrativa clássica e, quem diria, americana. E não apenas americana, mas sob a égide de Beleza Americana. Sam Mendes cria a transcendência de uma vida morta no personagem de Lester (Kevin Spacey), que, sendo não um narrador-defunto, mas um defunto-narrador, analisa sua vida defunta e como ele, minutos antes do momento de sua morte, consegue atingir o ápice de sua vida.
Sua vida de autômato é ornamentada por uma família que segue os moldes americanos (leia-se ocidentais). Sua mulher, Carolyn, encarnada por Annette Bening, é uma corretora de imóveis que parece ter sido originada do cruzamento de comerciais de eletrodomésticos do Polishop dos anos 90 com a histeria de vilãs de novelas mexicanas. No entanto, ela parece encaixar perfeitamente na trama, devido a manipulação que ela – e quase todos – sofrem pela mídia e pela psicologia de farmácia. Jane (Thora Birch) é a filha adolescente que é a estranha da escola e tem complexos com o próprio corpo. Essas linhas iniciais já nos indicam o interior da fachada dessa tríade pai-mãe-filha: falta de comunicação.
A construção dos personagens é orquestrada de forma orgânica, mesmo que eles sejam, por vezes, caricatos ou alegóricos. A caricatura, aqui, é peça fundamental à coerência da composição de simulacros que formam nossa sociedade. A mãe de Ricky Fitts (Wes Bentley), Barbara (Allison Janney) por exemplo, é um desenho feito em poucas linhas de uma mulher apática e sem vida, totalmente submissa ao seu marido autoritário, o coronal Frank Fitts (Chris Cooper). Os personagens de Carolyn e Barbara Fitts não causam um estranhamento em relação às suas inverossimilhanças. Talvez porque haja pessoas tão inverossímeis na vida real, talvez por termos em nossas mentes a percepção de uma sociedade que é o que vê na televisão.
O grande mote do filme é a beleza que há na vida, e como nós não a percebemos. As vendas que impedem os personagens de verem a beleza que há no mundo são mantidas em todos os personagens, exceto em Lester e em Jane – e o único que entende o mundo é Ricky. No entanto, a primeira centelha que atinge o protagonista de modo a se propor uma mudança de vida é Angela (Mena Suvari), a amiga de sua filha. Ela se mostra ao mundo como uma garota sensual, muito segura de si e que sabe como lidar com o assédio masculino. No entanto, Ricky, ao se encantar por Jane, acaba por mostrar que Angela usa Jane como companhia para se sentir melhor sobre sua amiga “sombra”, ordinária. Nessa trama, portanto, temos um fator interessante: a ponta do iceberg que mudará a vida de Lester é tão falso e mascarado quanto todas as outras pessoas que o cercam – e que ele a vê como especial até o fim.
Ricky Fitts é um personagem chave no filme. Um garoto bizarro à primeira vista que se mostra como o único normal e verdadeiro. Ele chega à vizinhança e se aproxima, primeiramente, de Jane. Depois, conhece Lester. Suas atitudes surpreendem os dois personagem de modo que eles saiam da cegueira social. Ricky é como o olho do autor do roteiro: ele vê aquilo o que merece ser visto e aponta aos cegos – e aos espectadores – a beleza que perdemos por aí. Sua câmera é diferente, sua realidade não é a câmera do filme (o que é um grande ponto na escolha da fotografia). Seu olho, após que Lester morre, fita os olhos de Lester. Ele vê que sua morte foi feliz e que, finalmente, ele havia compreendido e internalizado a percepção da beleza. Lester, como narrador, reitera a visão de Ricky no belo desfecho que segue a visão do instante final da sua morte ao continuar “até o infinito, como um oceano de tempo”.
O modo com a qual a música é usada merece um olhar à parte. Logo na apresentação da família americana, há timbres de instrumentos orientais, nos dando um olhar exótico a Lester, Carolyn e Jane. Já nos delírios de Lester (ao pensar em Angela), a música é sempre mística, tribal, quase ritualística, como se ele devesse ser iniciado por uma deusa no seu verdadeiro percurso da vida. No entanto, ao finalmente estar a sós com Angela, a música vem do aparelho de som da sua sala. A música: “Don’t Let It Bring You Down”, interpretada pela voz melancólica de Annie Lennox. Ao tornar a música diegética (com uma fonte inerente à narrativa), e realista (Angela está triste por ter sido confrontada por Ricky e Jane), a atmosfera é completamente distinta – quase como se a realidade de Lester não fosse tão boa quanto seus devaneios. O uso de “Because” (escrita por John Lennon e Paul McCartney) no fim faz o espectador que mergulha no filme se confrontar com a grande mensagem da história – a eterna questão do sentido de viver, como ela é bela e como somos ínfimos ante ela.
Beleza Americana estuda antropologicamente do bicho homem ocidental americanizado. O filme nos olha como objetos científicos humanizados, com suas distâncias e estranhamento naturais. Ao mesmo tempo, ele trata de aproximar o exotismo dessa nossa sociedade à suposta esquisitice de viver verticalmente a vida. Trata-se de um estudo incrível e que, se abrirmos bem os olhos à sua mensagem, ele pode mudar vidas – sem nenhum exagero.

Estado de Guerra 


Os Americanos invadiram o Iraque, em 2003, sendo esta a primeira guerra do século XXI e a segunda invasão americana ao Iraque. Uma invasão sem qualquer razão de existir, destroçando um país inteiro, matando muitos inocentes. Desde então, em oito anos, já foram feitos vários filmes sobre a guerra do Iraque, cada um com a sua visão. Kathryn Bigelow realiza uma nova versão, com «Estado de Guerra», em 2008. Os americanos sempre gostaram de fazer filmes “pipoqueiros” sobre as suas guerras, para mostrar ao seu povo e ao mundo o seu poder e ideais “democráticos”. Muitos destes filmes não tem qualquer qualidade cinematográfica. «Estado de Guerra» é uma excepção, pela sua dura realidade que Kathryn passa para as imagens.

A história passa-se durante a guerra do Iraque. James (Jeremy Renner), é chamado para integrar uma equipa altamente treinada em desmantelamento de bombas. James põe a sua vida em risco e as dos seus companheiros, Sanborn (Anthony Mackie) e Eldridge (Brian Geraghty), com os seus atos de heroísmo que advém do seu profissionalismo único. James é um louco e apaixonado da guerra, comportando-se como se fosse indiferente à morte, no meio da destruição e do caos total. A personalidade de James irá mudar para sempre os seus companheiros.

Grande parte deste género de filmes, apresentam uma visão do exército americano como os salvadores, os hérois. Neste filme, não acontece nem uma coisa nem outra. Kathryn não diz que os Americanos são os heróis, mas também não diz que são os invasores. Essa ideia não fica muito clara no filme, sendo que peca bastante nesse aspeto. O filme centra-se mais nos soldados que desarmavam as bombas colocadas pelos terroristas, em locais públicos da cidade.

Gritos e Sussuros 



Poucos diretores imprimem sua marca e transformam seus filmes em obras de arte. Trabalhos capazes de tocam a quem assiste de maneira tão profunda e irreversível que alteram sua percepção da própria vida. Ingmar Bergman é um desses exemplos. Suas obras estão repletas de poesia e são de extrema complexidade. Mas não fuja. Assistir os filmes de Bergman é uma experiência pessoal, única e uma oportunidade para conhecer intimamente o diretor.
O que atrai em sua obra é o modo como Bergman trabalha com temáticas delicadas e de forte carga existencial: a solidão, a religião (resultado de sua criação religiosa), a morte, o erotismo com toda sua violência e impotência, a racionalidade mesclada nos mais diversos absurdos. Na atualidade, seus filmes causam estranheza e são por vezes difíceis de compreender - e ainda permanecem extremamente atuais.



É a única seqüência em que o sangue aparece neste filme. Nunca há sangue no personagem de Agnes, a irmã que morre, não há sequer sangue na seqüência em que o marido de Maria se tenta suicidar, cravando uma faca no corpo. Este filme de corpos e palavras, este filme de grandes planos, este filme de sons de grande plano, ou, muito mais simplesmente, este filme de Gritos e Sussurros, é um filme em que o horror se inscreve no vazio, na profundidade de campo desses planos geniais em que as três irmãs se movem ou se imobilizam na casa da sua infância, reunidas ali, muitos anos depois, pela agonia e morte de Agnes. Mas se o sangue jorra só do corpo de Karin, o décor é sempre encarnado (a tal imagem que obcecava Bergman), e de uma seqüência a outra, seja no tempo presente, seja para os regressos ao passado (que aqui dificilmente se podem chamar flashback) é em encarnado que a imagem dissolve, como se diz em linguagem cinematográfica, ou se solve como me parece que aqui se pode dizer. “Desde criança, sempre imaginei o interior da alma como uma membrana úmida, tingida de encarnado” disse Bergman como única explicação. E talvez o seja. Mas esse encarnado, cor da púrpura e da pompa, é aqui também cor de luto e do passado, cor do que perdemos e nunca mais podemos recuperar. Quem quiser, pode também pensar que é a cor do inferno.


De qualquer forma, esse encarnado é o fundo e a forma deste filme e é dele que nos vêm essas quatro mulheres, vestidas de branco ou de preto, de cores sombrias ou cores claríssimas, para, diversamente, nos mostrarem as suas diversas lágrimas e os seus diversos suspiros. E vêm nesses grandes planos tácteis, que são o segredo do último Bergman. Só a título de exemplo refiro a seqüência do reencontro entre Maria e o médico (seu antigo amante) e a descrição pormenorizada que faz da cara dela. Nunca atriz nenhuma, como essa genial Liv Ullmann, se deixou despir assim diante de uma câmera, sem tirar uma peça de roupa e sempre em grande plano. Um microscópio a atravessa e esse microscópio é tanto a imóvel câmara como as palavras meigamente terríveis ou terrivelmente meigas ditas por Erland Joseph


O segredo dos teus olhos


A vida de Claire, procuradora do Ministério Público, e de Ray e Jess, agentes do FBI, é abalada quando descobrem que a filha de Jess é a última vítima do assassino em série que perseguiam havia meses. Apesar dos esforços de todos, o culpado nunca é encontrado e o caso é arquivado. Treze anos após o sucedido, Ray encontra uma pista que pode finalmente desvendar o crime. Mas o tempo alterou muita coisa e, apesar de habituados a lidar com o pior da Humanidade, não podiam imaginar o terrível segredo que estava por detrás deste crime hediondo.
Em 2010, valeu ao realizador argentino Juan José Campanella o Óscar para Melhor Filme Estrangeiro, um filme sobre o amor e o desejo de vingança que conta com argumento e realização de Billy Ray 



Fúria de Viver/Juventude Transviada (no Brasil)




É em “Fúria de Viver” que Nicholas Ray revela o seu melhor estudo sobre o comportamento de adolescentes. “Fúria de Viver” é um dos mais emblemáticos filmes da era dourada do cinema americano, a década de 50. O ano de 1955 é um ano chave para o cinema americano, pela produção de grandes clássicos do cinema e por ser o ano de James Dean, que ficou famoso pelos três filmes, “A Leste do Paraíso”, “Fúria de Viver” e “Gigante”, todos feitos no ano da sua morte. Foi sem dúvida um ano agitado para o jovem ator, que ficou imortalizado pela personagem de Jim, em “A Fúria de Viver”, e pelas suas roupas, uma t-shirt branca, jeans e um blusão vermelho. Esta imagem tornou-se num símbolo de irreverência e rebeldia, que muitos jovens, de todo o mundo, passaram a usar.
O filme narra a história de três adolescentes delinquentes, Jim, Judy e Plato que têm em comum a solidão, frustração e raiva que resultam de descenderem de famílias desequilibradas. Jim (James Dean) sente-se “dividido” entre a mãe dominadora e o pai fraco, incapaz de dar ao filho o modelo de segurança de que este precisa. Judy (Natalie Wood) vive com o pai que não a compreende e sente que ele não gosta dela. Plato (Sal Mineo) é o mais fraco elemento do trio, que foi abandonado pelos pais divorciados, vive com a empregada. Os três acabam por se unir como uma família que se ama e protege, depois de várias peripécias, que incluem, lutas com facas, uma corrida de automóveis, em que os três participam na morte de outro jovem e um romance entre Jim e Judy.
Ao contrário do que acontece com muitos filmes sobre rebeldes adolescentes que foram feitos depois deste, este atribui a culpa aos pais e não aos adolescentes. Estas intrigas parecem-nos leves para os dias de hoje, mas para a altura foram bastante polémicas. Na década de 50, pós-guerra, os EUA viveram um período dourado, em que muitos jovens não precisavam de trabalhar muito cedo, pelo que optavam por frequentar as universidades, tornando-se bastante comum estudar na faculdade. Os jovens passam a ter menos responsabilidades e maior poder de compra, levando, mais tarde, à geração hippie, ao maio de 68 e ao Woodstock. Daí Nicholas Ray ter ido buscar atores jovens e quase inexperientes no cinema, Mineo tinha 16 anos, Wood tinha 17 anos e Dean tinha 24 anos, sendo o mais velho do trio. É curioso que estas três talentosos jovens morreram de forma violenta e anormal. Dean morreu num acidente de automóvel, Wood afogou-se e Mineo foi assassinado. Mortes precoces dos atores que fazem, de certa forma, ligação com as personagens deste filme.
Personagens solitárias, cheias de raiva, fúria de viver, pois ninguém as compreende. Esta solidão que advém do rompimento com um mundo que não lhes corresponde mais. Os adultos (pais, polícias e professores) egoístas e irresponsáveis não transmitem uma boa educação para os seus filhos e isso leva a atos desesperados por parte dos jovens. Jim tenta criar a sua família alternativa com Judy (a sua mulher) e Plato (o seu filho), baseada na compreensão mútua. Plato chega mesmo a dizer que gostava que Jim fosse seu pai e na cena do palácio, os três brincam como crianças que são, encenando que são um casal. A certa altura Jim e Judy deixam Plato, adormecido no chão, sozinho. Quando este acorda vê-se cercado por outros três jovens (um deles era o jovem ator Dennis Hopper) e desesperado usa a pistola que trazia no bolso. Foge da polícia, que entretanto chega, e esconde-se no planetário. Jim e Judy vão ao seu encontro e tentam acalmá-lo. A polícia cercou o edifício e Plato com medo tenta fugir, tornando o final do filme na cena mais comovente de todas. É com um final trágico e comovente que Ray nos mostra uma dura realidade ainda nos dias de hoje, mesmo passados mais de cinquenta anos.
“Fúria de Viver” era para ser inicialmente filmado a preto e branco, mas Ray conseguiu convencer a Warner fazê-lo a cores, transformando o filme com cores vibrantes e com tons expressionistas, que salientavam bem a agitação daqueles jovens. Este foi também o primeiro filme em CinemaScope de Ray, um formato que ele viria a usar bastante.
É de salientar ainda as soberbas interpretações do jovem elenco. James Dean tem aqui a sua melhor interpretação de sempre. Infelizmente esta foi a única parceria entre Dean e Ray. Wood e Mineo foram ambos nomeados para o Óscares de Melhor Interpretação Secundária e Nicholas Ray foi nomeado para o Óscar de Melhor Realizador.
O excelente elenco, argumento e realização dinâmica, tornaram este filme numa das melhores obras do cinema e num dos melhores estudos sobre a adolescência, tornando-se num filme intemporal. “Fúria de Viver” é uma obra obrigatória!

Mel/Miele
Miele (ou Mel, em português) marca a estreia de Valeria Golino na realização de longas-metragens. O suicídio assistido está no centro da questão, com todas as implicações morais que lhe estão adjacentes - uma adaptação livre do romance A nome tuo, de Mauro Covacich.

Irene (Jasmine Trinca) vive sozinha numa casa à beira-mar, perto de Roma. Sob o nome de código Miele, secretamente, ela ajuda doentes terminais a morrerem com dignidade, dando-lhes um barbitúrico poderoso. Um dia, Irene dá uma dessas doses mortais a um novo cliente, o Sr. Grimaldi (Carlo Cecchi). Contudo, ela descobre que ele está de perfeita saúde, mas quer suicidar-se, depois de ter perdido o interesse em viver. Determinada em não ser responsável por aquela morte, ela irá fazer de tudo para a impedir.

A temática é sensível e polémica, mas está lançada. A abordagem está extremamente bem conseguida, com todos os problemas de consciência aqui implícitos. Entre viagens, mortes assistidas e a sua própria vida privada, Irene vive um dia-a-dia agitado, onde a rotina não existe. Como Miele, ela age contra a lei, mas sempre de consciência tranquila, a fazer o que, para si, é certo. Contudo, ao cruzar-se com GrimaldiIrene depara-se - mais tarde do que desejaria - com um caso diferente e que vai contra os seus princípios: um homem saudável que apenas quer morrer por estar farto da vida. Irene tem estabelecido que apenas ajuda a morrer pessoas que sofram de doenças terminais.
Ao longo do desenrolar da acção de Miele, desejamos saber mais sobre Irene. O que vamos conhecendo do seu passado é maioritariamente por flashbacks - pouco é aquilo que ela nos conta, ou conta a Grimaldi. Esse mistério envolvo na protagonista surge em paralelo com o seu anonimato como Miele, a mulher que ajuda os doentes a morrer, eles que nem o seu nome verdadeiro saberão. Irene perdeu a mãe muito jovem, por motivo de doença, mas nunca percebemos em que circunstâncias exactamente. Fácil é daí concluir que a jovem verá nessa morte que lhe foi tão próxima o motivo para realizar o trabalho que faz - que como a familiar de um doente lhe diz é um trabalho "de merda".

Para se libertar da dor que o trabalho e as memórias lhe trazem, Irene refugia-se no desporto e na Natureza. Desde nadar no mar, a passeios de bicicleta, ao simples sentar no meio de searas, são vários os momentos em que a tranquilidade e libertação que a protagonista sente passam para o espectador. É nestes momentos que Valeria Golino nos proporciona planos de extrema beleza, sempre tão dinâmicos como Irene.


Festim Diabólico



Festim Diabólico
[Rope, Alfred Hitchcock, 1948]

A história, baseada em peça de teatro de 1929 escrita pelo dramaturgo e romancista britânico Patrick Hamilton, é simples, mas macabra: dois amigos matam um terceiro e colocam o corpo em um baú na sala de seu apartamento, que serve de mesa para um jantar ao qual convidam seu professor. O objetivo é provar que é sim possível cometer o “crime perfeito”.
Hitchcock decidiu manter a estrutura de “peça de teatro”, mas não fez teatro filmado, o que potencialmente teria tornado o filme extremamente enfadonho, apesar dos curtos 80 minutos de duração. Com toda a ação se passando quase em tempo real e apenas uma sequência – a de abertura, quando vemos o diretor em uma de suas famosas pontas – passada fora do apartamento de Brandon (John Dall) e Phillip (Farley Granger), Hitchcock trabalhou com enorme engenhosidade e com uma câmera inacreditavelmente fluida e movimentada, com close-ups (como no estrangulamento), planos americanos e planos médios, além de travellings quase que exclusivamente de um lado para o outro do apartamento em linha reta. Para conseguir esse feito, Hitchcock trabalhou em sincronia extrema com a equipe técnica para criar um cenário que pudesse ser movimentado durante as filmagens. As paredes, assim, foram montadas em cima de trilhos e era abertas e fechadas na medida do necessário, com ensaios que envolveram não só os atores, mas também as pessoas responsáveis por mexer em toda a estrutura. Além disso, o ciclorama (cenário de fundo) usado em Festim Diabólico foi o maior usado até 1948, além de um dos mais complexos, pois não só envolvia imagens de Nova Iorque, como nuvens, fumaça de chaminé, luzes e iluminação que se modificavam na medida em que o tempo passava. É um divertimento esquecer o resto do filme e só focar nesses aspectos técnicos.
Festim Diabólico ainda foi o primeiro filme do diretor em Technicolor, o que, à época, significava câmeras ainda maiores, que tiveram que ser montadas em estruturas móveis silenciosas especiais, só para complicar a vida dos técnicos. Mas o resultado valeu a pena, apesar dos comentários negativos do próprio diretor. É absolutamente fascinante ver a história se desenrolar ao longo dos 80 minutos de projeção como se literalmente fôssemos o observador onipresente e onisciente.
James Stewart faz o papel do professor Rupert Cadell, convidado de honra para o jantar e quem os estudantes desafiam para descobrir o crime que cometeram. É a primeira da prolífica parceria de Stewart, que já tinha uma bagagem considerável, com Hitchcock e que geraria clássicos inesquecíveis como Janela Indiscreta, a segunda versão de O Homem que Sabia Demais e Um Corpo que Cai. Stewart demonstra muita tranquilidade em seu papel, atuando com sempre atua: passando uma naturalidade quase sobre-humana, que poucos atores eram (ou são) capazes de passar. Contracenando com um elenco menos conhecido, mas mesmo assim muito bom, ele acaba dominando toda a fita a partir do momento em que aparece.
É interessante, também, notar um subtexto que, em 1948, era um tabu quase intransponível: a homossexualidade. O filme é todo permeado do assunto e o restritivo – e absurdo – Código de Produção em vigor não pegou “o problema” em razão de um roteiro inteligente que foge da obviedade, de atuações contidas (os atores que fazem os dois assassinos eram gays) e de uma direção sábia de Hitchcock que escancara a situação, mas só para que souber ler nas entrelinhas. E o mais interessante é que esse aspecto da vida sexual dos personagens nem era essencial à narrativa, mas ele é deixado lá por um diretor bem a frente de seu tempo.
Festim Diabólico marca talvez o verdadeiro início de Hitchcock como o Mestre do Suspense, considerando-se seus filmes seguintes, e é uma pequena joia que só melhora ao longo do tempo e do quanto mais nós sabemos sobre sua interessantíssima produção.
Festim Diabólico (Rope, EUA – 1948)
Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Arthur Laurents, Hume Cronyn (adaptação), Ben Hecht (não creditado), com base em peça homônima de Patrick Hamilton
Elenco: James Stewart, John Dall, Farley Granger, Joan Chandler, Sir Cedric Hardwicke, Constance Collier, Douglas Dick, Edith Evanson
Duração: 80 min.

Uma Mente Brilhante



Algo de muito relevante no filme é que é uma historia real que trata com verdade o universo de um transtornado. A esquizofrenia com certeza já estava em John Nash antes de ser diagnosticada, porém o diretor muito sutilmente vai dando os vestígios disso até o surpreendente ( para muitos) surto. O filme, além de magnifico, é informativo. Um esquizofrênico não é um deficiente mental, ou seja, não tem sua intelectualidade afetada. Agoniza com delírios e alucinações, tem crenças infundadas, porém não tem sua inteligência diminuída. Russel Crowe soube passar muito bem esse fato, também os tiques que muitos transtornados têm, mas sem estereótipo. E Jennifer Conelly? Aparentemente discreta, porém o pilar de Nash, sua estrutura para desenvolver uma vida em sociedade e profissional com aquela certeza de que alguém, alguém muito especial o entendia. Ela teve a força para interpretar uma personagem altamente angustiada com dignidade e esclarecimento. O fato de Nash ter ganho o prêmio Nobel é um reconhecimento que um transtorno não é destruidor de intelectualidade, mas um tormento que só os lutadores suportam por décadas a fio. E Russel Crowe soube transmitir com brilhantismo isso. E Jennifer Connely muito merecidamente ganhou o Oscar por ter talento para não cair no lugar comum do melodramatico. 

Mentiras de Guuerra/Undergrond


Emir Kusturica é um ciniasta e cantor (Servio) tem banda com o mesmo nome, "Emir Kustirica & No Smoking Orqustra" entre o seus filmes mais conhechidos estão: A vida é um Milagre e Gato Preto Gato Branco. Participou também no filme 7 Dias em Havana onde também participa no filme realizado por 7 cinieastas.
Era ma vez um país… Era uma vez [um pedaço] da história do século XX na Europa. Era uma vez um diretor de guerras e festas, de cenários barrocos e realistas, de roteiros alegóricos sobre História, política e sobre as muitas faces da humanidade. Era uma vez um lugar de mentiras, uma fábrica de armas chamada Underground, um filme de Emir Kusturica, diretor nascido em Sarajevo, capital da atual Bósnia e Herzegovina, independente da Iugoslávia em 1992. O filme em questão, falado em sérvio, alemão, francês, inglês e russo, é um apanhado plural das guerras e das políticas da Europa Oriental nos extremos do século vinte, da explosão da II Guerra Mundial em 1939 aos conflitos internos e de intervenção da OTAN que marcaram a região no anos 1990 e que podem ser divididos em três grandes categorias:
·        As guerras separatistas dentro da República Socialista Federativa da Iugoslávia (1991 a 1995, de onde saíram independentes Eslovênia, Croácia e Bósnia e Herzegovina);
·        As guerras de cunho étnico-político envolvendo os albaneses (1996 a 2001, com destaque para os conflitos de Kosovo, Sérvia e Macedônia);
·        As duas grandes ações da OTAN contra a Sérvia, uma em entre 1995 e 1996 (Operação Força Deliberada) e outra em 1999 (Operação Forças Aliadas), na província e Kosovo.
Esse grande número de movimentações bélicas na região balcânica (a mais instável do Velho Continente) começou a dar os seus primeiros passos ainda nos anos 1980, após a morte de Tito, político bastante influente e admirado não só pelos seus compatriotas, mas pela comunidade internacional de diversos pontos da Guerra Fria — em seu massivo velório, em 4/05/1980, estiveram Leonid Brejnev, Margaret Thatcher, Indira Gandhi, Saddam Hussein, Yasser Arafat, Fidel Castro e Nicolae Ceauşescu, isso só para citar alguns (o nosso presidente, General Figueiredo, não pode ir, mas mandou o Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas, o General José Ferraz da Rocha) — e sua situação se agravou após a queda a URSS em 1991. O roteiro de Undergroundusa especialmente essas mutações políticas e conflitos bélicos para montar um quebra-cabeça ideológico e social de uma região inteira, mas o seu alcance pode ser para todo um continente, ou para o mundo inteiro.
Como estamos falando de um longa de Emir Kusturica, é importante ressaltar que o surrealismo (reinterpretado pelo diretor) e as formas mais nonsenses de mostrar conflitos humanos são a base do roteiro, como por exemplo, o cenário que dá título ao filme, o Underground, local onde um grupo de pessoas é mantido acreditando que a II Guerra ainda está acontecendo, mesmo 20 anos depois dela ter terminado. Nesse sentido, o subtítulo brasileiro cai muitíssimo bem à fita: Mentiras de Guerra. Primeiro, porque o roteiro trabalha as frequentes mentiras entre teoria e práxis, as mentiras que se conta e que se articula em massa para que uma situação X seja bem aceita ou que um líder X seja mantido no poder. Segundo, porque o filme foi lançado, oficialmente, no dia 1º de abril de 1995, mais um dos caprichos irônicos de Kusturica.
Acompanhando a saga de mentiras de guerra e problemas étnicos e ideológicos, temos a onipresente música de Goran Bregovic (que já tinha trabalhado com Kusturica em Vida Cigana e Arizona Dream: Um Sonho Americano). O compositor toma como base a música cigana dos Bálcãs, privilegiando a percussão e os instrumentos de sopro do grupo dos metais, mas mistura ritmos e melodias dos Cárpatos, do Cáucaso e dos Urais, criando temas e variações que combinam com a diversidade de povos e posições políticas que o longa aborda. Kusturica então usa a música como um contraponto quase independente, como em um dueto desigual, onde as vozes se harmonizam mas criam, no ouvido de qualquer um, sensações diferentes. A busca pela identidade e até o conflito entre identidades são bem representados por esta faceta do filme, que muito nos lembra a proposta musical que Federico Fellini tinha para seus longas e a forma como Nino Rota representava essa proposta. Como se não bastasse a riqueza das composições de Bregovic, temos ainda trechos da 9ª Sinfonia de Dvorák; da 3ª Sinfonia de Saint-Saëns e a execução da icônica Lili Marleen.
Kusturica levou três anos para finalizar Underground por completo, mas o resultado é simplesmente arrebatador. Sua predileção pelo fingimento teatral das interpretações, o diálogo com as artes e a metalinguagem, o desenho de produção caótico, a constante poesia no movimento interno dos planos (até os bombardeios — especialmente o primeiro — são líricos), a mistura de gêneros cinematográficos, a crítica social, os figurinos anacrônicos, a fotografia pendendo para o tom sépia, o complemento do que o diretor havia iniciado dez anos antes em Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios, tudo está aqui em Underground. As quase três horas de filme são plenamente justificadas pela epopeia proposta pelo enredo e o seu significado final é do mais absoluto cinismo, o tom correto para por fim a uma jornada de guerra verdadeira, aquela que só é guerra quando um irmão mata um outro irmão.


As Horas


um filme que vale a pena ver pelo elenco e pela musica de Philip glass.

A produção cinematográfica estadunidense intitulada As Horas foi dirigida por Stephen Daldry e lançada em 2001. O filme é baseado em um livro de mesmo nome do autor Michael Cunningham. O filme As Horas apresenta um dia na vida de três mulheres em três diferentes épocas que se unem através de um clássico da literatura mundial: o romance a Senhora Dalloway. A primeira mulher é a própria autora da obra, Virgínia Woolf (Nicole Kidman), que vive ao lado do marido num subúrbio londrinho nos anos 20. Laura Brown (Julianne Moore), uma dona de casa, esposa e mãe em Los Angeles dos anos 40, é a segunda mulher da trama e está lendo o romance de Woolf. A última, a editora Clarissa Vaughan (Meryl Streep), é uma mulher nova iorquina dos anos 2000 que tem o mesmo nome da protagonista da obra literária. Essas mulheres, porém, têm mais em comum do que apenas uma ligação forte com um livro. As três possuem experiências de depressão diferentes e relacionadas às suas épocas, mas que podem ser vistas como semelhantes, visto que nas três mulheres estão presentes muitos sentimentos e muitas sensações que se repetem, como a insatisfação e a frustração com a vida que levam. Além disso, há um sentimento de não-pertinência ao mundo cotidiano que prevê papéis bastante definidos para essas personagens aos quais é muito sofrido e até mesmo impossível ajustar-se. A posição da mulher na sociedade é bastante abordada no filme e, inclusive, pode ser vista como um fator desencadeante da depressão das personagens.
Vírginia Woolf é, nitidamente, a personagem mais perturbada pela depressão. Ela é a única que apresenta alucinações auditivas e a que possui mais dificuldades em relacionar-se com outras pessoas e em ser responsável por si mesma, visto que, devido às suas alucinações e a duas tentativas de suicídio, o marido possui rígido controle sobre as suas atividades e ela mantém relacionamentos com pouquíssimas pessoas. A escritora é prisioneira da sua doença e da forma como era realizado o tratamento em sua época, que privava as pessoas do convívio social e de uma rotina comum. Esse fator é bastante importante, pois a personagem fala sobre a angústia de ver-se privada de se responsabilizar por si e essa privação pode ser encarada como prejudicial à saúde de Virgínia que, a cada momento que passava afastada de Londres e sob a vigilância do marido e das recomendações dos médicos, sentia-se mais angustiada. É nessa situação que a época em que vive a personagem é mais importante, pois a forma como a doença psíquica era tratada nos anos 20 fez com que ela fosse isolada e se tornasse incapaz de tomar suas próprias decisões. No romance de Virgínia, Mrs. Dalloway, é possível perceber uma crítica aos métodos de dois médicos que aparecem no enredo. Septimus, um herói de guerra, é tratado por esses médicos e na cena em que aparecem a autora descreve as entrevistas clínicas e o tratamento indicado a Septimus de maneira crítica, deixando mais evidente a sua opinião sobre a medicina de sua época. Há sintomas bem característicos da depressão nos comportamentos de Virgínia como a lentidão de movimentos, a falta de apetite e a falta de autoestima, usando os cabelos desalinhados e roupas surradas.

Em Laura Brown, a depressão fica evidente na ideia permanente de suicídio da personagem durante o filme e que a leva a um quarto de hotel com a bolsa cheia de remédios. Contudo, ela desiste de abandonar a vida que tem através da morte e resolve fazer isso deixando os filhos e o marido assim que o bebê que estava esperando nascesse. A época em que vive Laura é fundamental para a sua depressão, talvez até mais do que nas duas outras personagens, pois ela vive nos Estados Unidos dos anos 40, no auge do american way of life, é casada com um herói de guerra e é mãe, ou seja, a sua vida naquele momento era a vida perfeita, idealizada por todos: uma boa casa, um marido dedicado e filhos. Desse modo, como ela poderia se dar ao direito de não se sentir satisfeita e completa? É a partir dessa insatisfação com a vida que tem e com o papel de esposa e de mãe exemplar que deve ocupar que se manifestam os sintomas depressivos de Laura. Nessa personagem também é possível pensar na existência de um superego feroz e causador de angústia e de culpa que a impele a suicidar-se, além da regressão da libido. Os sintomas de Laura podem caracterizar um tipo de depressão chamado distimia, em que a pessoa funciona socialmente, mas não consegue sentir prazer nas suas atividades (Mackinnon & Michels, 1992). Em seus comportamentos de apatia e de desinteresse isso fica bastante claro. Assim como no esforço que precisa fazer para esboçar um sorriso e para mostrar-se feliz para o marido. Além disso, como Virgínia, ela apresenta falta de apetite e fuga da realidade através da leitura, enquanto que na romancista a fuga da realidade se dava a partir da escrita e das vozes que escutava que impediam a sua concentração, como a própria autora relata em sua carta de suicídio:
O papel da mulher no filme, As Horas
O ser mulher é algo extremamente importante nessa obra cinematográfica e isso não se deve apenas ao fato de as três protagonistas serem mulheres. Nas três histórias há a ocorrência de um beijo homossexual. Virgínia beija a irmã Vanessa (Miranda Richardson). Laura beija a amiga Kitty (Toni Collette). Clarissa beija a companheira Sally (Allison Janney). Esses beijos podem ser interpretados de diferentes formas, mas é evidente que têm importância na obra, que querem dizer algo a quem assiste a obra e que são outra forma de conectar as personagens. É possível pensar que os beijos estão relacionados às mulheres que as protagonistas são e às que elas gostariam de ser, levando em consideração às épocas as quais pertenciam e aos padrões femininos estabelecidos. O beijo entre Virgínia e sua irmã acontece quando as duas estão se despedindo, quando Vanessa está voltando para Londres. Nesse momento, ela está contando que precisa voltar para casa, pois dará um jantar naquela noite, também comenta algo sobre os filhos e está bem arrumada e penteada. Ou seja, retrata uma mulher dedicada aos filhos, a oferecer jantares aos amigos do marido, que cumpre seu papel de esposa e que se veste de forma adequada. Virgínia, por outro lado, não tem filhos, vive isolada no subúrbio devido a sua doença, não sente vontade de se arrumar e é uma preocupação constante para o marido. O beijo, portanto, pode ser uma representação da admiração que Virgínia sente pela irmã pelo fato de ela conseguir se adaptar ao padrão estabelecido para ela e ser feliz e, ainda, uma vontade de roubar-lhe a vida que a irmã tem. O beijo entre Laura e sua amiga ocorre quando Kitty vem visitá-la para contar que está com câncer. Por mais que seja uma notícia extremamente triste Kitty continua sorrindo. Ela fala que não tem do que reclamar, afinal, é casada com um herói de guerra que é um marido dedicado e que cuida dela...



Realizar o Impossivel


Realizar o Impossível
Frosty Hesson (Gerard Butler) e Jay Moriarty (Jonny Weston) depois de mais uma aula de surf. Foto: 

O filme que conta a história verídica do jovem prodígio Jay Moriarity (Jonny Weston) e da sua relação com Mavericks, a temível onda grande do norte da Califórnia que faz a delícia dos surfistas de ondas grandes do planeta.

 Orientado por Frosty Hesson (Gerard Butler), o seu mentor e figura paternal, Jay descobre o significado do acto de surfar ondas grandes e a dedicação que as surfar requer, aprendendo preciosas lições de vida ao longo desse processo. Moriarity mostra-se um jovem determinado e apaixonado, tal como era quando  vivo, capaz de escapar às várias tentações que Santa Cruz (e a vida), lhe apresenta, tudo tendo em vista um único objectivo: surfar Mavericks. Resumindo, é a típica história que Hollywood adora e cuja fórmula não se coíbe de repetir inúmeras vezes. De facto, Realizar o Impossível assenta em premissas tão habituais como a do jovem rapaz, Jay, sem pai, que desesperadamente procura uma figura paternal, Frosty, e que, quando a encontra, com ela aprende várias lições de vida que, ultimamente, resultam no cumprir do seu objectivo que, na história deste filme, é apanhar e surfar as ondas de Mavericks. Pelo caminho, duro e revestido de obstáculos (chegar a Monterey, uma remada de várias milhas), Jay passa pelos também habituais amores (Kim, Leven Rambin) e rivalidades de liceu, figura maternal (Kristy Moriarity, Elisabeth Shue) desleixada, sem esquecer a típica voz da consciência, encorpada na mulher do seu mentor Frosty, Brenda Hesson, protagonizada por Abigail Spencer, irmã do surfista profissional Sterling Spencer.
Critica
 Em primeiro lugar, é preciso realçar que por algum motivo Holywood usa sempre o mesmo fio condutor nas suas histórias: elas resultam! Os filmes conseguem relativo sucesso e, pelo caminho ainda inspiram uma ou outra pessoa. Mas lá está, este é um filme de Hollywood - não é um filme de surf. O que nos leva ao segundo ponto: Realizar o Impossível não é um filme de surf. Não vão com expectativa de encontrar surf performance, vão, sim, com expectativa de encontrar uma história verídica adaptada a uma fórmula. E as adaptações, como já dissemos em cima, têm premissas comuns e, um dos pontos por onde o filme peca, talvez seja mesmo no facto de passar a ideia de que poderia ser sobre qualquer outro desporto. Aliás, fazendo um paralelismo merecido com Karaté Kid, este tinha porrada como linha de apoio, Realizar o Impossível tem o surf. Ainda assim, Karaté Kid é um filme que fica na memória. Quem não se lembra daquele último golpe de Daniel-San, com o braços levantados e perna alçada? Todos nos lembramos. O que nos leva ao terceiro ponto: o que fica na memória de um surfista após ver este filme? Um considerável número de clichés, é certo, mas também uma fotografia notável, com imagens verdadeiramente espectaculares de Mavericks e dos destemidos que a surfam, de dentro e fora de água, incluindo uma vista de cima graças ao uso de helicópteros. Os pequenos cameos de Peter Mel e Greg Long, surfistas profissionais de ondas grandes, também ficam para a história como demonstração da tentativa da equipa de produção do filme de credibilizar o filme junto do seu core. De facto, nota-se uma preocupação em dar credibilidade surfística ao filme e este seria impossível sem ela, mesmo sendo só uma tentativa. A questão é que, os surfistas, são um público muito exigente e o equilíbrio entre surf e mundo de fora, nos filmes hollywoodescos, é difícil de alcançar e daí o ocasional cliché… Não deixa de ser importante realçar, também, alguma confusão no argumento, confundido-se por vezes a história pessoal de Jay Moriarty com a revelação ao Mundo da onda de Mavericks, duas coisas que, cronologicamente, estão afastadas.

 Realizar o Impossível peca, então, onde os outros filmes sobre surf que o antecederam também pecaram mas sai valorizado pelas suas imagens espectaculares (ainda mais bonitas quando vistas em tela grande) e pela história pessoal de Jay Moriarity, uma história que mesmo mostrada em formato Hollywood não deixa de conter mensagens de determinação, dedicação e vontade que ainda hoje servem de inspiração e mantra para a cidade de Santa Cruz e para os seus seguidores no surf de ondas grandes.

Chasing Mavericks (Realizar o Impossível), EUA
Michael Apted e Curtis Hanson

Vale Abrão

 




Existe um quarto lugar que importa mencionar, a Casa das Jacas. Este é o lugar em que se dá o ponto de viragem da história, em que Ema se apercebe que há outro mundo, diferente daquele que ela conhecera até então e mais esplendoroso. A Casa das Jacas é também esplendorosa.
Outros locais são referidos ao longo da acção. Um deles é a cidade de Lamego, por nela ter lugar um dos momentos incontornáveis da história, logo no primeiro capítulo. Tendo este facto em conta, poderá ser uma boa ideia sentarmo-nos num dos bancos do jardim da praça central de Lamego, ou numa das suas esplanadas – quem sabe se não teria sido naquela mesma que tudo se passou? - para calmamente ler este capítulo.Mas ao longo do romance assistimos à decadência física e moral de Ema, e das diferentes casas. A prosperidade e nobreza passadas da região, que no início da história ainda se adivinham, são gradualmente substituídas pela degradação e abandono, surgindo referências às recentes casas de emigrantes.
Este é um livro que, de resto, se deve ler com calma, no sossego, num remansoso sossego. Assim, um sítio de eleição poderá ser o alpendre, a sala de estar ou a reentrância da janela de uma das muitas casas de turismo rural da região. É interessante visitar a Quinta do Vesúvio, pois existe realmente e produz vinho. A própria obra faz referência à proprietária original, a que chama a Senhora, e que corresponde a D. Antónia Adelaide Ferreira, a Ferreirinha, grande senhora do Douro do século XIX, que aqui gostava de receber visitas.

Vale Abraão conta a história de Ema, personagem de Flaubert, transferida da Normandia do século XIX para o Douro do século XX. Foi escrito com o objectivo de servir de guião para o filme com o mesmo nome realizado por Manoel de Oliveira em 1993.
Nota, recomendo tb ler o livro que é mto bom.

Interstellar


Num futuro não muito distante, a Terra é um planeta devastado. Estudiosos de todas as áreas buscam mundos potencialmente habitáveis que possam evitar a extinção da Humanidade. A comunidade científica acredita que a solução pode estar nas pontes de Einstein-Rosen (ou "buracos de minhoca"), portais que possibilitam a ligação entre mundos paralelos, independentemente da distância entre eles. E é assim que uma equipa de exploradores espaciais é enviada na missão mais importante da História humana: entrar num desses portais e encontrar um mundo onde a vida possa prosseguir. Entre eles está Cooper, um engenheiro viúvo que tem de tomar uma decisão extraordinariamente difícil: embarcar nessa perigosa viagem ou ficar ao lado dos seus dois filhos. Um filme de ficção científica realizado por Christopher Nolan ("Memento", "Insónia", "O Cavaleiro das Trevas", "A Origem"), segundo um argumento de Jonathan Nolan, seu irmão. O elenco conta com a participação de Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Jessica Chastain, Michael Caine, Matt Damon, Wes Bentley, Casey Affleck, David Gyasi, Mackenzie Foy e Topher Grace. Kip Thorne, um dos mais conceituados físicos da comunidade científica da actualidade, tem aqui o papel de consultor teórico do argumento. 



O CAPITÃO

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Corre o ano de 1945. Com a chegada dos Aliados, a guerra na Europa está a prestes chegar ao fim. Vários soldados alemães, conscientes da derrota, optam por desertar. Um deles é Willi Herold, de 19 anos. Na sua fuga, o rapaz depara-se com um automóvel abandonado onde encontra uma mala com um uniforme de capitão. Ao vesti-lo, assume a personagem que o representa, sentindo o poder e o estatuto que lhe estão inerentes. É então que, reunindo um grupo de desertores, inicia uma vaga de assassinatos e saques sem misericórdia por todos os lugares por onde passa…
Estreado no Festival de Cinema de Toronto, um filme biográfico quase totalmente a preto e branco, realizado pelo alemão Robert Schwentke (“Pânico a Bordo”, “A Mulher do Viajante no Tempo”, “Red: Perigosos”, “Insurgente”, “Da Série Divergente: Convergente”), sobre a verdadeira história de Willi Herold, um alemão julgado por crimes de guerra. Este filme é uma co-produção entre a Alfama Films de Paulo Branco, a alemã Filmgalerie 451 e a polaca Opus Film.

O Homem que Viu o Infinito


A história começa antes da Primeira Guerra Mundial, G. H. Hardy ajuda o prodígio da matemática indiana o Srinivasa Ramanujan a encarar o mundo Acadêmico e a lidar com o preconceito. 
O filme é baseado em fatos reais. E se passa na Faculdade Trinity, (Trinity College, Cambrige, England, 1920).
O longa metragem foca na trajetória de Ramanujan, um jovem morador da cidade de Madras, Índia que possui um talento para matemática. Órfão de pai, sem dinheiro e sem educação formal, ele luta para sustentar mãe e esposa. Com muito esforço consegue um emprego num escritório \u2013 por ter habilidade com as contas. O seu chefe pede para que ele explique seu trabalho como matemático. Este chefe reconhece o potencial do trabalho de Ramanujan e o incentiva a publicar seus trabalhos, enviam uma carta para o professor G. Hardy. Esta carta mudará sua vida. Em alguns dias depois recebe uma carta resposta do professor Hardy convidando-o a ir Trinity College, Cambrige, England.
Quando Hamanujan chega a Faculdade Trinity, sofre um choque cultural muito grande e isso fica bem marcado no filme. O matemático que nunca deixara seu povoado indiano, é apresentado um mundo com toda espécie de hostilidade, alimentação (ele era vegetariano), o clima frio, passou a usar sapatos (quando chegou só usava sandálias, com o pretexto de que os sapatos machucavam seus pés), além do bullying dos professores e alguns colegas que não aceitavam a sua presença nas salas de aula.
O filme  mostra as dificuldades que Ramanujan enfrentou para publicar e ser reconhecido, desde da duras regras acadêmicas até a saudade da família.
Ao final o Ramanujan já doente com tuberculose avançada recebe a ajuda do seu mentor Hardy para publicar e consegue o reconhecimento acadêmico. Ramanujan torna-se um membro da Royal Society de Ciência em Cambridge. Depois disso, e com o fina da Guerra o indiano voltou para casa com a promessa de enviar carta mensalmente ao seu mentor com novas descobertas e provas, além de ter que voltar um ano depois para Cambridge. Só que quando chegou a Índia a doença voltou e ele não resistiu. Morreu aos 32 anos de idade.
O filme ressalta um preconceito de uma época contra um hindu, cujas suas teorias, quase um século depois de sua morte, vem sendo não só comprovadas como aplicadas no desenvolvimento de computadores, na economia e no estudo de buracos negros.
                                         OITO e MEIO
Luísa, personagem de “Oito e Meio”
Eu não creio que seja possível distinguir claramente o passado, o presente, o futuro, o imaginário e as lembranças daquilo que verdadeiramente aconteceu. Esse é o problema que tentei abordar em ‘Oito e meio’.
Federico Fellini
A maior parte das pessoas que trabalha com produção artística certamente já esteve diante de um bloqueio criativo. Não conseguir produzir aquilo que teoricamente se sabe fazer é uma das mais angustiantes situações que alguém pode encarar. A ausência de ideias ou a rejeição de qualquer coisa que não seja “aquela ideia que nunca vem” pode deixar muitos criadores prostrados e de mãos atadas por um bom tempo diante de um projeto. Alguns, no entanto, fazem dessa situação o motor de uma ‘obra impossível’ e quase sem querer, acabam entregando ao seu público um produto honesto, autobiográfico e deliciosamente caótico.
Este é o caso de Oito e Meio (1963), obra icônica de Federico Fellini. A película surgiu em meio às voltas que o diretor dava em torno de um roteiro que não andava e de uma concepção de produção da qual ele não fazia ideia. O filme já havia recebido financiamento, o elenco principal já estava contratado, mas o roteiro não existia. E é nesse momento, mais como uma saída para a vergonha de ter que dizer aos profissionais que não haveria filme, o diretor imagina uma situação inusitada: “e se fizermos uma película sobre um diretor com bloqueio criativo?“. A ideia ganhou corpo e, com a total liberdade de criação cedida pela Cinecittà, Fellini pode expiar os seus fantasmas em um roteiro que, a rigor, não tinha narrativa e apresentava pelo menos três mundos distintos: o onírico, o fantástico e o real. Oito e Meio nascia caótico, em meio ao caos.
Guido Anselmi é um famoso cineasta, conhecido por seus filmes sem esperança. Sua mais nova produção recebeu oito milhões em investimentos mais a construção de cenários, a contratação de atores e muitos acordos para distribuição. O impasse nessa caminhada é que Guido tem um rascunho de roteiro que ele não gosta, tampouco o corroteirista que ele escolheu para dar continuidade ao texto. Com o passar das semanas, nem um nem outro chega a um acordo e o material do filme… não existe. Os atores o cercam com perguntas: “diretor, qual é o meu papel?”. O produtor cobra resultados imediatos. A imprensa o aborda com as mais diversas e esdrúxulas perguntas. Guido não tem um filme. E ninguém sabe disso.
Quando Fellini faz de Marcello Mastroianni o seu alter-ego, no papel de Guido Anselmi, ele tem o cuidado de estruturar bem a história do bloqueio criativo como fio da meada narrativo, mas foge dele como centro da história, trazendo as implicações pessoais e externas ao indivíduo, aquilo que o move, o que define suas posturas e suas escolhas artísticas. De um modo simples, poderíamos dizer que somos convidados a construir uma história e visitar diversas outras, seja trechos de uma memória de infância, seja as fantasias de um espírito perturbado. Com isso, temos a impressão de que o filme que assistimos não está pronto, ele próprio se faz naquele momento e nós estamos em sua produção, contemplando um mundo diegético que ainda não se completou.
O jogo entre filme e espectador se torna mais intricado a partir do momento em que as fantasias alcançam níveis diferentes. Num primeiro momento, embalados pelo Overture de O Barbeiro de Sevilha, entendemos a fuga do protagonista e suas visões de uma bela mulher, que futuramente saberemos ser uma atriz contratada para o filme. O cotidiano de Guido se descortina: vemos sua relação com a amante que lê quadrinhos do Pato Donald; com os atores que cobram uma posição dele sobre os seus papeis; com a esposa, primeiramente através de um telefonema, e depois, pessoalmente; e claro, com os produtores do filme.
Em nenhum momento, todavia, a trama pessoal ou profissional do personagem é priorizada. Quando nos acostumamos com o tom de normalidade e aparente tranquilidade narrativa, um sonho ou fantasia surge, e delas, somos jogados para outro lugar na história. Nesses momentos, a montagem de Leo Cattozzo (que já havia trabalhado com Fellini em A Estrada da VidaNoites de CabíriaA Doce Vida e As Tentações do Dr. Antonio) ganha uma vitalidade invejável. O editor consegue fundir takes com desenho de produção e fotografia bem diferentes — falaremos disso mais adiante — sem torná-los imageticamente estranhos ao espectador...

                                               MARCADO PELA PROMESSA

 
Filme- MARCADO  PELA PROMSINOPSE   -  Brady Gray ( Andrew cheney) é o filho predileto, assim como José da história da bíblia e acaba despertando o ódio de seus irmãos, que cometem um crime imperdoável para afasta- lo do seu pai.  Conduzido para um futuro incerto.  Após ser brutalmente ferido ele segue para uma cidade na esperança de esquecer o passado e começar uma nova vida. Deve haver mtas versões de filmes baseados na  vida de Jesus...Mas gostei deste. Podem ve-lo no YouTube com tradução do Português Brasileiro..
ASSIM NASCE UMA ESTRELA

Título original:
A Star Is Born
De:
Bradley Cooper
Com:
Lady GagaBradley CooperSam ElliottDave ChappelleAnthony Ramos
Género:
Drama, Musical
Outros dados:
EUA, 2018, Cores, 136 min.

Apesar de sobreviver à custa de um ordenado miserável como empregada de mesa, Ally nunca abandonou o sonho de se tornar uma estrela. Um dia, conhece Jackson Maine, um cantor consagrado com tendências autodestrutivas que reconhece o seu talento musical e resolve ajudá-la. Os dois apaixonam-se e vivem uma grande história de amor. Mas, ao mesmo tempo que ela começa a atingir o estrelato e a emocionar multidões, Maine torna-se vítima da implacável máquina que tem o poder de criar e destruir vedetas. Dominado pelo vício do álcool e drogas, Jackson inicia uma verdadeira descida aos infernos, deixando marcas profundas no seu relacionamento com Ally.
Quarta versão da obra realizada, em 1937, por William A. Wellman – com Janet Gaynor e Fredric March nos principais papéis –, um drama musical que marca a estreia na realização do actor Bradley Cooper, que aqui também assume os papéis de argumentista e protagonista. Para além de Cooper, no elenco participam Lady Gaga, Andrew Dice Clay, Dave Chappelle e Sam Elliott. A título de curiosidade, estava inicialmente previsto que este filme fosse realizado por Clint Eastwood e protagonizado por Beyoncé. PÚBLICO